Testemunho da Mitkah


Nasci em 1982, no Paraná. Morava com meus pais e três irmãos. Minha mãe cuidava de nós enquanto meu pai trabalhava para nos sustentar. Só o víamos à noite porque ele trabalhava muito e se preocupava conosco. No final da tarde sempre recebíamos com alegria e jantávamos juntos. Era muito bom!

Quando completei 5 anos minha mãe ficou muito doente e foi internada em estado grave em um hospital. Seu sangue tinha "virado água". Dependíamos muito dela! Era como se o mais valioso estivesse sendo arrancado de mim. Foi um tempo bem difícil porque meu pai não conseguiu cuidar de nós. Findamos na rua, sozinhos, e tudo o que meus pais não tinham me ensinado, eu aprendi. Aprendi a ser desrespeitosa com os adultos, falar palavrões, roubar, mentir, ser desobediente, etc. Eu não tinha respeito por ninguém! Carregava ódio dentro de mim. Meu pai tinha amado outras coisas mais do que a mim.

Findamos sendo levados pela polícia para um orfanato de meninos, meninas e adolescentes, drogados ou não. Senti uma amargura profunda! De lá fui para outro orfanato, bem melhor que o primeiro. Tínhamos quase tudo, com exceção do amor dos nossos pais. Sempre que me lembrava deles ficava deprimida e sentia uma solidão profunda!

Depois que minha mãe se recuperou, ela foi nos ver no orfanato. Quando a vi chorei de alegria. Logo senti que ela estava diferente, triste e então descobri que ela e meu pai haviam se separado. Ela estava sofrendo, e eu também. Por que as pessoas têm que sofrer tanto assim? Comecei a ter medo de muitas coisas. Quando completei onze anos sai do orfanato com o sonho de reconciliar meus pais. Queria trabalhar, mas ninguém me dava emprego pois eu não tinha muitas habilidades. Achei que meu pai iria entender, mas ele ficou indignado comigo!

Fiz amizades com pessoas que diziam ser minhas amigas, mas quando as coisas davam errado apenas riam da minha desgraça. Hoje, sei que as aventuras que fizemos não valeram a pena pois não nos acrescentaram nada. Não passaram de momentos passageiros de curtir a vida e esquecer da solidão que carregávamos dentro de nós.

Com 14 anos me casei e por um tempo até me esqueci dos problemas, pois tudo estava muito bem. Com o passar do tempo fui percebendo que dentro de mim crescia uma solidão, e um grande vazio começou a brotar, mesmo com meu esposo ao meu lado. Fomos convidados para conhecer uma igreja evangélica na tal "noite da libertação", onde os problemas de todas as pessoas seriam solucionados. Embora não tivesse experimentado nenhuma libertação, fiquei fiel àquela igreja por seis anos buscando preencher o vazio que me incomodava. Tornei-me ainda mais amargurada e sem esperança. Não acreditava mais que alguém pudesse me ajudar. O que fazer? Cada tentativa que fazia me via em situação ainda pior.

Saímos da igreja pedindo que Deus nos livrasse da solidão. Precisávamos de um lugar onde as pessoas não olhassem para si mesmas e cuidassem umas das outras. Um lugar onde não fariam distinção entre as pessoas, pois sou negra e na minha infância sofri com isso. Sofria e me perguntava: "Será que existe um lugar assim: onde as pessoas se importam em ajudar umas às outras mesmo com os problemas que elas têm? Será que existe?" Queria muito que o que estava escrito em Atos 2:42-44 se cumprisse novamente aqui na terra: pessoas unidas, vivendo juntas, compartilhando sofrimentos e alegrias.

Na condição em que me encontrava era impossível sorrir. A solidão estava no fundo da minha alma. Freqüentei diferentes lugares, igrejas e nada mudou.

Certo dia algo aconteceu em minha vida! Enquanto estávamos na casa de um casal de amigos, dois homens apareceram por lá. Vi algo maravilhoso neles e senti que eram diferentes pela maneira que falavam, olhavam, se vestiam e principalmente pela maneira que viviam: juntos, em comunidade. Não entendi muito sobre a vida que eles viviam, mas eles me deram um folheto escrito "Verdadeiros amigos" na capa. Fiquei um pouco receosa, mas ao mesmo tempo, com vontade de conhecer mais sobre a vida deles. Decepcionada com tudo, evitava me envolver mais profundamente com outras pessoas. Guardei o folheto na gaveta e ali ele ficou.

Certo dia, um amigo nos convidou para um estudo bíblico em sua casa. Inventamos uma desculpa para não ir, pois o Cristianismo havia deixado marcas muito profundas em nós, e ouvir e não ver as palavras que saiam da boca das pessoas sendo cumpridas, me deixaram descrente. Nem mesmo na Bíblia eu cria. Cheguei ao ponto de crer que Deus não existia e que eu havia nascido somente para sofrer. Estava sem esperança.

Para minha surpresa este meu amigo decidiu fazer a tal reunião na minha casa. Ele veio juntamente com dois homens daquela comunidade. Não sabia que aquele dia seria tão especial, e que marcaria a minha "vida" para sempre. Sentamos e começamos a fazer perguntas para aqueles dois homens. Eles respondiam uma a uma pacientemente. De alguma forma pude ver o Espírito de Deus naqueles homens, e que o testemunho deles era verdadeiro.

Meu esposo chegou do trabalho e fui logo falando que Deus havia enviado aqueles homens para nós, e que eles sabiam tudo o que precisávamos saber. O semblante dele mudou, ele largou sua bicicleta e foi correndo ao encontro dos homens. Conversamos bastante e prometemos visita-los para saber mais sobre a comunidade e a vida deles. Esperança renasceu em nós.

A solidão não tardava chegar. Meu esposo me levou juntamente com outro amigo para uma espécie de "celebração" na sexta-feira na comunidade. Quando a celebração começou vi pessoas de semblantes muito alegres. Nem parecia que o que os meus olhos estavam vendo era real. Era lindo o que estava diante dos meus olhos: pessoas vivendo juntas, tendo "tudo em comum"!

Alegria voltou ao meu coração e fé renasceu. Alguns dias depois gritei em alta voz que não agüentava mais a vida que eu levava e que eu queria ser liberta daquela força negativa que me impedia de ser feliz. Eu queria ser diferente e viver uma vida normal como aquelas pessoas viviam. Eu sabia que sozinha eu não conseguiria acabar com toda a injustiça, o sofrimento, o ódio, a inimizade e a solidão deste mundo. Eu queria construir algo sólido, como aquelas pessoas estavam construindo. Meu marido e eu queríamos viver de maneira digna e não mais como prisioneiros dessa sociedade. Pedimos a Deus e seu filho Yahshua que nos livrasse dos espíritos maus que carregávamos para que fôssemos selados com o espírito.

Sou muito, muito grata que a famosa solidão que age na vida de muitos, agora já não faz mais parte de mim.

Mitkah

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